Opinião

A super-cola

A coligação PSD/CDS-PP continua agarrada ao assento. Incapaz de aceitar que a situação política no país evoluiu, atem-se a um discurso plangente de criança a quem lhe arrancaram o chupa das mãos. Para segundo plano tem ficado, na sua ótica, a consciência de que é mais que hora de parar de fazer da Assembleia da República um muro de lamentações e pôr mãos à obra. Ainda recentemente, o vice-presidente do PSD, Marco António Costa, foi queixar-se à mãe que “aquele moço bateu-lhe”, porque supostamente o governo de Passos Coelho tinha sido vítima de uma “artimanha” do PS. Olvidou, no entanto, que a atual situação parlamentar na República decorre de acordos legítimos e legitimados por uma maioria que representa, em si, um número muito maior de votantes do que aqueles que votaram na coligação PSD/CDS. E isto sem falar do número de portugueses que votariam só no PSD, se este concorresse sozinho. Não obstante, compreendo a ressabia. Não deve ser fácil. O que se esperava, de qualquer forma, era que ambos os partidos mantivessem a sua dignidade, independentemente da situação. E não foi isso que, por exemplo, Paulo Portas fez na sua intervenção aquando da discussão do Orçamento de Estado, transformando, muito ao seu estilo, num show daquilo que deveria ser um momento solene. Zombou, insinuou e fez, de um discurso que se exigia sério, mais um “episódio” parlamentar. “Estilos” coadjuvados pela chumbada moção de rejeição que, mais uma vez, denotam o melindre que se faz sentir nas bancadas do PSD e do CDS/PP, e que ameaça perdurar. Dias depois vem a lume a notícia de que o anterior Governo, na azáfama da queima dos últimos cartuchos, gastou, (só) em novembro, 278 milhões de euros, perfazendo os cerca de 630 milhões gastos até àquele mês da almofada financeira de que o país dispunha para 2015. Deixaram “para trás” cerca de 315 milhões de euros, contradizendo o discurso com que vinham a atafulhar os portugueses nos últimos meses, de que tudo ia bem e de que os nossos cofres estavam cheios. E eram estes os políticos que mereciam estar sentados nas cadeiras do governo? Num único mês, em que sabiam claramente qual o seu destino, os anteriores governantes fizeram uma razia aos cofres do Estado, comprometendo (ninguém me diz que não propositadamente) a meta do défice. E vem agora Passos Coelho, de tom ufano e paternalista, dizer a António Costa que, se se empenhar, chega lá – quase a título de desforço. Sem pejo. Nada mais há a fazer do que o novo Governo afirmar e praticar o comprometimento para com o cumprimento das metas do défice e a consequente retirada do procedimento por défice excessivo imposto pela União Europeia. Face ao “quadro” deixado por Passos e C.ª, há soluções a serem encontradas, trabalhadas e implementadas. A sensação que fica, no entanto, é que as sessões de “rasteiradas” desta estirpe poderão ainda não ter acabado e que muito ainda há a desencobrir da governação da coligação PSD/CDS. E assim vamos andando, com essa coligação tão agarrada às cadeiras do poder que até aposto que, se lá formos inspecionar, ainda lá estão os fundilhos de alguém. Com super-cola é mesmo assim. Pena que ainda não tenham chegado à conclusão de que é tempo de pousar as armas e trabalhar a sério. O país e os Portugueses precisam dessa estabilidade e do encontrar de soluções para os problemas que ainda existem. Bem, ao menos para isso ainda ninguém (lá fora) pensou em ir buscar um professor de Harvard para nos “ensinar” como se deve atuar no atual cenário económico do país. E ainda bem. É bom arranjarmos soluções próprias, com os dados que nos dá uma vivência que nós – e só nós – conhecemos bem.