Depois dos dois mundos – do ocidente e da cortina de ferro - ruíram a ditadura e o polvo soviético e instalaram-se a ditadura e os polvos capitalista/etnoreligiosos. A globalização foi o termo que ocupou o lugar da mundialização operada pela circum-navegação de Vasco da Gama. Pensar hoje é mais difícil perante um certo ocidental-centrismo que transmite uma certa ilusão de controlo universal. Quando as crises, as bolhas económicas e os avanços dos novos polvos atingem, transversalmente, países e povos, eis que surgem as tímidas defesas do coletivo.
A questão das quotas leiteiras é mais um mau exemplo de uma Europa que, de tanto querer regular e “diretivar”, desregula amiúde os próprios mecanismos que criou. Como esta semana disse Vasco Cordeiro, a questão está mais na defesa e promoção dos mercados de escoamento e comercialização do que nas restrições à produção. Se é verdade que para alimentar devidamente 9 mil milhões de seres humanos muito há a fazer para chegar a todos, também é verdade que hoje estamos confrontados com a necessidade de uma agricultura sustentável ou durável balizada por parâmetros ambientais. Nos Açores, as boas práticas agroambientais podem coexistir com o rendimento e podemos ser exemplo para a Europa desnorteada pelo peso de alguns países do Norte. O que não faz sentido é a Europa embarcar em sanções a mercados vantajosos, como aconteceu com a Rússia, enquanto que os EUA continuam, e bem, a garantir e a proteger as suas produções e mercados de escoamento. É necessário que a Europa passe do denunciar ao enunciar, da conservação à transformação. As crises não podem dar razão à sentença de Heraclito “ viver da morte, morrer da vida”. A Europa do desenvolvimento cumpre-se com maior envolvimento dos seus diretórios nos problemas regionais. Ou não foi por isso que se assumiu a dita Europa das Regiões? O Governo Português socialista volta a demonstrar atenção a este problema. No passado foi também um governo socialista que impediu o pagamento de multas por excesso de produção leiteira e de também ter retirado os Açores do embargo da então BSE. Hoje, o Governo Açoriano volta estar na linha da frente pela defesa deste importante setor económico. A confiança gera-se nesta proatividade perante a inércia ou a “canibalização política” de outros, sempre ansiosos por querem juntar-se aos prolegómenos da Europa desnorteada.