Opinião

Prazos de validade

I. O PSD quer transformar a sua depressão, de 20 anos na oposição, em depressão coletiva. Quer que os Açorianos sintam como suas as dores de um partido que, ao longo de duas décadas, não se soube recriar, renovar e reposicionar, ainda que mudasse de líder a cada ciclo eleitoral. Quer que os eleitores julguem um Governo de quatro anos com pena das duas décadas que o PSD leva de incapacidade de se assumir como alternativa e não com convicção naquilo que o maior partido da oposição é capaz de propor para o futuro da Região. E fá-lo sob a liderança de alguém que encarna na perfeição os 20 anos de oposição. Assumiu funções como deputado regional em 1996, data da primeira vitória do PS em eleições regionais, manteve-se como deputado regional e eurodeputado ao longo destas duas décadas, e pretende agora que os Açorianos o vejam como líder de uma suposta renovação, que conta também nas suas fileiras com ex-secretários regionais de governos de há mais de vinte anos, presidentes da Assembleia Legislativa de há 21 anos ou diretores regionais de há quase 25 anos. II. O PSD é exatamente o mesmo há 20 anos. Nas figuras, nos métodos, nas ideias. Podia ser coerência, mas é apenas uma mistura de inércia e sobranceria. Desde que deixou de ser poder, convenceu-se de que mais tarde ou mais cedo, depois de passar o castigo que o povo dos Açores entendeu aplicar a uma governação instalada, lassa em termos éticos e desinspirada no plano das propostas, voltaria a governar a Região. Fez, por isso, sempre uma leitura minimalista dos contextos políticos que se iam sucedendo, optando por fazer de conta que se recriava quando, no fundo, se limitava a mudar de liderança e a baralhar e dar de novo os cargos internos e externos. Enquanto isso, o PS foi sendo capaz de dar resposta e consequência aos anseios e ambições dos Açorianos, puxando a Região para cima, para outros patamares económicos, de projeção, de apoio social e de desenvolvimento. Foi renovando as caras e os processos, foi agregando novas gerações, foi ajudando a criar uma Região mais aberta, mais próspera, mais ambiciosa e participada. III. O deputado Duarte Freitas é um dos últimos protagonistas de uma geração de social-democratas açorianos que, na liderança ou na vice-presidência, na montra ou no armazém, controlaram o PSD nas últimas duas décadas à espera do momento em que os Açorianos levantariam a quarentena a que sujeitaram, democraticamente, o partido que (eles acham) nasceu para governar os Açores. O único problema é a realidade - essa ingrata - e os instrumentos de aferição da mesma – esses baldes de água fria – que teimam em demonstrar que a Região está muito melhor do que estava há 20 anos e melhor do que estava no início da presente legislatura. Em política, como na área comercial, é muito mais fácil criar um produto do que criar um mercado. O PSD é um produto político para um mercado que não existe. Para o compensar, decidiu recuar duas décadas no discurso, fingir-se de novo e rezar para que os Açorianos queiram, em 2016, julgar 1996. Felizmente, para todos nós, democracia significa precisamente que não há prazo de validade para se estar na oposição. É o povo que decide e o povo decide o seu futuro, não psicanalisa o seu passado.