I. Os deputados do PSD/Açores na Assembleia da República consideram a proposta de Orçamento do Estado, presentemente em apreciação no Parlamento, desadequada e insuficiente no que diz respeito à Região, mas não apresentaram quaisquer propostas de alteração, tal como no passado e ao contrário do que acontece com os seus colegas da Madeira.
Não me compete, enquanto adversário político, julgar a eficácia estratégica do posicionamento dos deputados do PSD/A na República em termos partidários. Eles lá saberão que dividendo contam retirar desta postura. Mas, enquanto agente político com responsabilidades na defesa dos interesses dos Açores e na valorização da Autonomia, não posso deixar passar em claro esta preocupante tendência do PSD/A para achar que o papel da oposição é apenas o de vigiar e chamar a comunicação social para fazer queixa, ao invés de se assumir como alternativa proponente, capaz de fazer melhor ou de acrescentar à solução proposta.
II. É curioso como a coisa se processa. Se um determinado compromisso está inscrito na proposta de Orçamento, ou o valor é diminuto ou a formulação é duvidosa ou o calendário de execução permanece obscuro – como se o Orçamento do Estado fosse, simultaneamente, um Relatório e Contas, um poema e um calendário. Se, pelo contrário, não surge um determinado assunto identificado pela designação que o PSD pretenderia, ou estão a esconde-lo ou, pior, esqueceram-se dele.
Há uma certa sobranceria nesta maneira de fazer política, assente no princípio “a nós, ninguém nos engana”, mas esse não é o problema maior. Grave é a convicção profunda de que os Açorianos se contentam com duas ou três notas de imprensa, uma ou duas tiradas parlamentares e um ou outro bitaite soprado para a comunicação social, sem que nada disso signifique outra coisa que não seja a mera guerrilha político-partidária estéril. Igualmente grave é que nunca tenha passado pela cabeça dos eleitos do PSD/A à Assembleia da República que o mais interessa aos Açorianos é que, por exemplo, o novo estabelecimento prisional de Ponta Delgada se faça, e não que se converta num calvário de suspeitas, acusações, dúvidas e rumores. Ou, para avançarmos outro exemplo, que as alternativas de utilização e valorização das infraestruturas da Base das Lajes, na sequência da redução da presença militar norte-americana, possam avançar, com o empenho e acompanhamento solidário de todos, e não que acabem por ser tratadas como mera matéria-prima para alimentar a máquina de exaltações críticas em que se transformou o PSD/A no Parlamento nacional.
III. É claro que se o Governo de Coligação de Passos Coelho e Portas tivesse resolvido as pendências entre a Região e a República que, ao invés, deixou eternizar – se, no meio do turbilhão de austeridade cega e inconsequente, tivesse tido o mínimo de atenção às legítimas pretensões dos Açores, não seria necessário aos deputados do PSD/Açores gritarem freneticamente a cada Orçamento do Estado.
A questão já não seria, pois, a de saber se 700 mil euros são suficientes para o projeto da nova cadeia de Ponta Delgada ou se sete meses constituem tempo demasiado para implementar um novo sistema de articulação entre Lisboa e os Açores, no âmbito de um programa especial de apoios sociais para a ilha Terceira. Tudo isto teria sido resolvido nos quase cinco anos de governação anterior. Tudo isto teria contado com o apoio inequívoco, ponderado e bem-sucedido dos deputados que representavam o PSD/Açores na República. E agora bastar-lhes-ia puxar o lustro à obra feita e apresentar soluções de futuro.