“Passos Coelho vai votar contra a integração dos funcionários precários na função pública”. “Défice caiu 357 milhões de euros até outubro graças à retoma”. Começo esta crónica com dois títulos da imprensa da última quinta-feira que dão bem nota do estado da arte do nosso país.
Ou seja, enquanto o país real apresenta sinais claros de retoma, como ainda recentemente, se verificou com dados do crescimento económico, o PS aproxima-se nas sondagens de valores próximos da maioria absoluta e o Presidente da República elogia a estabilidade da “solução governativa de esquerda”, o ainda Presidente do PSD, cada vez mais sem discurso, limita-se a reforçar o seu estado crónico de negação.
No fundo, até se percebe. Quem, no Verão, assentou toda a sua estratégia de sobrevivência política interna no “quanto pior melhor”, subitamente, vê-se desmentido, quase todos os dias, pelos sinais que lhe chegam da economia e das entidades externas como a própria Comissão Europeia, que validou o Orçamento do Estado para 2017.
Passos Coelho terá até se sentido traído até pelos amigos de Bruxelas que, não há muito tempo atrás, lhe sancionavam a estratégia ideológica de empobrecimento de Portugal. Certamente, que nunca esperaria tamanha traição. Viu-se, assim e mais uma vez, sem discurso, sem estratégia e sem qualquer adesão ao país real.
Por isso, Passos Coelho já não é só austero. Tornou-se mais amargo e, orgulhosamente, só. Não lhe resta, pois, outra alternativa de que não seja a da fuga para a frente, porque, um dia, acredita que vai ter razão. No fundo, socorre-se da estratégia de que um relógio, mesmo quando está parado, está certo duas vezes por dia. Se der tempo! Até lá, Portugal vai trabalhando para consolidar os sinais de retoma económica que já se notam nas diversas áreas.
É evidente que este caminho de retoma ainda está longe de estar concluído, mas será, certamente, um bom sinal quando o insuspeito vice-presidente da Comissão, Pierre Moscovici, diz que “Portugal está a deixar a crise económica para trás”, e que, se tudo correr bem, “não serão necessárias medidas adicionais ao Orçamento do Estado para 2017“. A confiança dos portugueses sai ainda mais reforçada quando esta semana recebemos três boas notícias: o País, segundo o INE, está a crescer de acordo com as previsões do Governo; foi definitivamente rejeitada a possibilidade de Portugal ver os seus fundos comunitários congelados; e, finalmente, após décadas de visto prévio pela parte da Comissão Europeia ao Orçamento do Estado, vamos sair do chamado “procedimento por défice excessivo”. E o que diz o Presidente do PSD? Diz que “Este Orçamento é um mau Orçamento”.
O estado de negação pode ser interpretado como uma forma de proteção pessoal, muitas vezes, até de sobrevivência. Uma defesa que se adota quando se fica órfão de argumentos perante as evidências. Estas, as evidências, estão a surgir todos os dias na devida proporção em que se agrava o estado de negação de Passos Coelho.