Opinião

Ainda de Luto

Durante uma catástrofe todos somos catastroficamente preventivos. O país está de luto. Ainda não se percebeu; creio que nenhum de nós, porquê e como, duas catástrofes com quarenta dias de intervalo o país ardeu ainda mais geográfica e socialmente pela força incontrolada do fogo. Alguns analistas dissertam sobre a tragédia como se dela soubessem com antecedência a sua dimensão e consequências. A população, essa sim reconhece falhas e consequências da imprevisibilidade climática, da reincidência de más práticas, das dificuldades de reordenamento territorial, das faltas de apoio logístico e de socorro, até mesmo de outras práticas criminosas; e por isso devem ser ouvidas e envolvidas em estratégias de prevenção e combate. Sua Ex.ª o Presidente da República foi dos primeiros a questionar e exigir saber-se o como e o porquê e atuar-se em conformidade, precisamente porque ninguém tem esta informação até ela acontecer; mas uma evidência se impõe, foram portugueses que perderam tudo até as suas vidas pela força incontrolada da natureza desencadeados talvez por outras forças ou circunstâncias que devem conhecer-se. Depois de uma catástrofe seja qual for, há que entender o fenómeno. Se for natural, o que nos casos da maior parte dos incêndios em Portugal deixa as maiores dúvidas, há que procurar causas, se intencional, procurar culpados; e que se faça justiça, esta justiça que se pede não contemple só o crime de dolo patrimonial dos atingidos, mas também moral das vítimas e ao País que ficou mais pobre humana e patrimonialmente. A justiça exemplar que se pede, não é justiça a mais ou a menos, é a justiça aplicada, caso existam culpados, em função da urgência em se reparar a extensão do dolo que neste caso é a dimensão humana e material da catástrofe. Que a justiça se veja feita, que a vigilância se faça e que a responsabilidade de todos nós, aquela pequena grande parte que nos cabe na prevenção seja feita, para que Portugal não seja um País de fogos, um País que arde sazonalmente, que perde dramaticamente cidadãos e bens. Mas o tempo infelizmente é de luto e dor, de revolta contra a natureza e os humanos que possam ter desencadeado tudo isto. Dor e revolta contra algo que deve ser resolvido como determina a urgência do ressarcimento, do sarar das feridas, do apoio humanitário e da solidariedade nacional. A Assembleia Legislativa da Região Autónoma da Região Autónoma dos Açores, no início desta sessão legislativa, solidária com os efeitos desta fatalidade nacional aprovou voto de pesar e cumpriu um minuto de silêncio. Continuamos de luto.