O ensaio “Causas da decadência dos povos insulares”, de Antero de Quental, publicado pelas Artes e Letras, revisto por Daniela Medeiros e Helena Frias, ilustrado por Urbano e fortemente prefaciado por Onésimo Teotónio Almeida, é um ensaio para 2018 e para todos os (novos) anos e foi a minha releitura no final de 2017.
No ano que termina daqui a dias, a dependência pela independência das regiões aos Estados é para mim o tema de 2017(e de anos anteriores). E esta, como outras situações, necessitam de reflexão e ações conjuntas e nunca unilateralismos.
A decadência referida no ensaio assumia como fenómenos capitais, um moral, outro político e outro económico.
“O instinto político de descentralização e federalismo patenteia-se na multiplicidade de reinos e condados soberanos, em que se divide a Península, como um protesto e uma vitória dos interesses e energias locais contra a unidade uniforme, esmagadora e artificial”(Antero de Quental)
Catalunha - o veredito do povo! - o PP perdeu 8 dos 11 deputados. Ficou (apenas) com 3. Na Catalunha os três partidos do bloco independentista garantiram 70 deputados. O partido Ciudadanos ganhou sem a maioria. Catalunha tem agora o que lhe faltava para negociar uma solução não unilateral. Não há força política que anule a vontade do povo.
E os fenómenos políticos e morais não podem contribuir para a decadência de uma região na relação com o Estado.
Açores – resposta com limite temporal - A autonomia tem sido a nossa forma de afirmação para com o Estado e na Europa. Temos sabido potenciá-la, em cenários difíceis. Porém, o sempre (acordo) do uso da Base das Lajes foi(é), entre tantas outras situações, a prova viva da dependência dos Açores ao Estado e nunca da sua autonomia. À não definição por parte dos EUA em assumir as suas responsabilidades, o Presidente do Governo, exigiu, e bem, uma resposta com limite temporal numa nova fase que parece se ter iniciado na última reunião. Podemos afirmar a autonomia “cá dentro” – até ao nível parlamentar criar uma comissão para potenciá-la – para melhor preparados defendê-la “lá fora”, mas esta potenciação não pode estar vulnerável às decadências negociadas por outros.
As relações entre os Estados e as suas Regiões assumem-se como um desafio de inovação geopolítico para os novos anos, não se podendo regressar às soluções de violência e unilateralismo do passado.
“ ...são[os povos insulares] ao mesmo tempo in-
ventivos e independentes”(Antero de Quental).
Feliz 2018!