A descontaminação ambiental da ilha Terceira é um problema nacional que exige uma ação efetiva, mas não podemos cair em alarmismos sociais que penalizam duplamente a nossa ilha.
1 – O QUE EXIGIMOS? – ninguém nega a existência de contaminação na ilha Terceira. O que não podemos aceitar são os alarmismos sociais que o PSD deu voz na Assembleia da República e que contribuíram para uma campanha internacional de difamação da Terceira e dos Açores. Mais do que nunca é necessária transparência e um esclarecimento total e cabal sobre a real situação da contaminação da ilha Terceira. Temos de tomar medidas urgentes, para que se tente evitar uma destruição reputacional que dificilmente será reversível. Na audição desta semana solicitada pelo PS, reiterei junto do Ministro dos Negócios Estrangeiros (MNE) que é urgente reforçar as ações de limpeza e descontaminação nas áreas e locais já claramente identificados como contaminados; desenvolver todas as ações necessárias em locais cujo padrão de contaminação, ou não é totalmente conhecido, ou não é conclusivo; acima de tudo, agir globalmente na totalidade dos sítios identificados como contaminados pois só assim se permitirá resolver, satisfatoriamente, a descontaminação na ilha Terceira. O conjunto destas ações tem de ter por critério, não apenas, as questões de segurança e saúde pública, mas, também, as questões da proteção e qualidade ambiental independentemente do uso atual ou futuro do local em causa. Sem esquecer a necessidade de reforçar a monitorização em tempo real para um acompanhamento permanente da evolução da descontaminação e a necessidade de reforçar os mecanismos de informação e transparência públicos quanto ao que deve ser feito e quanto ao que está ou não está a ser feito, segundo critérios técnicos e científicos.
2 – O QUE CONSEGUIMOS? – o MNE afirmou que as questões da contaminação/descontaminação estão a ser acompanhadas de forma a que “nós tenhamos, em relação a qualquer risco, qualquer hipótese ou a qualquer informação credível, os meios para ou acompanhar as autoridades norte-americanas no trabalho da descontaminação da ilha Terceira ou na substituição das autoridades norte-americanas quando elas não procederem em tempo devido à descontaminação, ou nós próprios, por nossa iniciativa, procedermos às reanálises necessárias”, e que qualquer informação credível, ou seja, qualquer denúncia assinada será devidamente verificada, como estão a ser todos os pontos da carta enviada pelo Sr. Orlando Lima. Além disso, como já foi anteriormente referido por várias entidades há uma nova postura por parte dos EUA, “com a assunção das responsabilidades próprias e da necessidade de trabalhar com as autoridades nacionais na concretização dessas responsabilidades”, referindo o Ministro evoluções positivas no sítio 3001 e na posição dos EUA em reanalisar sítios que até agora não tinham aceite. Em relação às questões de saúde pública não temos, até ao momento, nenhuma informação que permita identificar um problema nesta área, mas foi assumido um compromisso que considero fundamental, qualquer resultado ou qualquer informação, mesmo que intermédia, a que o Estado português tenha acesso, será alvo de intervenção.
3 – O MAL DO ALARMISMO – esta semana adensaram-se notícias internacionais sobre a existência de um “paraíso tóxico”, de uma ilha “radioativa”. Notícias que revelam um estado de contaminação radioativa e tóxica da Terceira, que não está comprovada técnica nem cientificamente. Estas “fake news”, esta mediatização da descontaminação, volto a frisar, será, sem dúvida, mais nociva para o futuro da Terceira do que a real contaminação existente na ilha, e tem responsáveis, os que anunciaram aos sete ventos que estava um “povo a morrer na ilha Terceira”. A situação preocupante que hoje a ilha Terceira vive é resultado deste facilitismo, desta superficialidade, desta falta de rigor com que este tema foi abordado pelo PSD e em particular pelo deputado António Ventura, que deu voz e alimentou a criação de notícias sobre um hipotético grau de contaminação que não está comprovado. A contaminação é um problema que existe, que tem de ser resolvido, mas nada indica que tenha as dimensões que têm sido apregoadas indevidamente. Este alarmismo promovido pelo PSD e em particular pelo deputado António Ventura que levou a estas notícias falsas, prejudicarão gravemente a nossa ilha, nomeadamente os 2 sectores de atividade que alavancam o crescimento económico da nossa ilha: o turismo e a agricultura. As notícias já se tornaram virais, com mais de 10 mil partilhas, chegaram à Alemanha, ao Reino Unido, ao Brasil, aos EUA, só para mencionar alguns exemplos. E são constantes as abordagens dos diversos países emissores de turistas a manifestar preocupação e a solicitar esclarecimentos sobre as notícias alarmantes divulgadas. Mas, a preocupação não se fica por aqui, também os importadores começam a questionar a qualidade dos nossos produtos. É necessário de facto mais sentido de Estado e decoro no tratamento deste decisivo momento para a ilha Terceira, não podemos aceitar que seja dada voz aos que alimentam estes alarmismos. Reforço temos de garantir rigor, seriedade e transparência no tratamento deste dossier para o bem do futuro da nossa ilha e da nossa Região.
(*) Deputada e Vice-Presidente GPPS na Assembleia da República
E-mail lmartinho@ps.parlamento.pt www.laramartinho.wordpress.com