O título é irónico, mas o assunto é deveras sério. Estamos perante a segunda pandemia declarada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) neste século. A primeira declaração, ocorreu a 25 de abril de 2009, e teve na génese as consequências provocadas pela denominada gripe A (H1N1). Em Portugal registaram-se quase 170 mil casos que, infelizmente, causaram 122 mortes. Em termos mundiais, o surto de gripe A atingiu entre 700 milhões e 1,4 mil milhões de pessoas, tendo causado, segundo estimativas, entre 150 a 575 mil mortes. A 10 de agosto de 2010, decorrido algum tempo após a administração da vacina com sucesso em vários países, a OMS anunciou o fim do ciclo pandémico da Gripe A. A segunda declaração de pandemia pela OMS, concretizou-se no passado dia 11 de março, e diz respeito ao surto coronavírus (covid-19). À data que escrevo, Portugal regista 112 casos confirmados, sendo que felizmente ainda não há vítimas mortais a registar. À escala global, registam-se já mais de 125 mil pessoas infetadas e mais de 4.500 mortes. Acresce ainda que, segundo reputados especialistas, em relação ao pico do H1N1, que contou com taxas de mortalidade de 0,4% nas suas fases iniciais, o novo coronavírus é sete vezes mais mortal, com taxas de mortalidade de 2,5% nos primeiros 31 dias. Sendo que o diretor-geral da Organização Mundial de Saúde, Tedros Adhanom Ghebreyesus, foi mais pessimista e apontou uma taxa de mortalidade global de 3,4%. Neste contexto, estamos, obviamente, perante uma situação muito complexa e da máxima seriedade e que, por isso, exige coragem nas decisões políticas que se impõem e doses exacerbadas de civismo. Ora, se temos vindo a assistir a decisões de enorme prudência e bom senso por parte dos Governos Regional e Nacional, já o mesmo (infelizmente!) não se pode dizer em relação a sua Excelência o Presidente da República, cuja leviandade de ações, traduzidas em maratonas de selfies, beijinhos e apertos de mãos, foram totalmente incompatíveis com o cargo que temporariamente desempenha. Diz o povo que o exemplo vem de cima… E também se diz, para os simpatizantes de outro tipo de regime, que “fraco rei….” Independentemente da perspetiva, aquela ida à varanda para anunciar o resultado (negativo) do teste efetuado é uma coisa indescritível. Vi e não queria acreditar que o “mais alto magistrado da nação” estava a fazer aquilo, mas fez mesmo. E como fez, tendo em mente as imagens da praia de Carcavelos a abarrotar, apenas me ocorreu – em vez da merecida crítica que aquela prática justificava por ser contrária a tudo o que a Direção Geral de Saúde tem vindo diariamente a recomendar – a seguinte questão: não devia o Senhor Presidente ter aproveitado o tempo do seu autoisolamento para se ter juntado àquele mar de gente? Aposto que as televisões dariam, com total deleite e em direto, cada um dos seus mergulhos…