Opinião

As Eleições Americanas

A escolha de Kamala Harris para candidata a vice-presidente de Joe Biden marca o início da reta final das eleições presidenciais americanas. Em 2016 a América viveu a desilusão da promessa de mudança de Barack Obama. Obama venceu em 2008 e 2012 perante os efeitos da crise financeira. A sua agenda de mudança colapsou perante a urgência de salvar a economia, uma prioridade imposta pela realidade. Trump explorou o ressentimento dessa deceção com a promessa de reconfigurar o sistema político contra os políticos, à imagem do seu sucesso como empresário milionário. Para se compreender a vitória de Trump, para além da sua opositora, é necessário conhecer duas particularidades do sistema político norte-americano. A primeira é o sistema eleitoral federal. O presidente americano é eleito indiretamente por super delegados, eleitos com base nos resultados de eleições diretas em cada estado. As eleições norte-americanas são o resultado de 50 eleições estaduais independentes. A eleição presidencial não ocorre num círculo nacional único, como acontece em Portugal. É esse anacronismo que explica que Trump tenha sido eleito com menos três milhões de votos do que Hillary Clinton. A segunda é a estrutura do Partido Republicano, composto por uma coligação de seis alas distintas que se confrontam nas primárias e que, posteriormente, se conformam com a ala vencedora. Trump foi o primeiro presidente proveniente da ala populista e com isso capturou todas as outras alas do partido. Trump representou a instabilidade institucional com prosperidade económica que degenerou no caos total, ilustrado na gestão desastrosa da pandemia. Biden sugere uma mudança segura embora sem grande entusiasmo. Em 2020 a América procura reconciliar-se e sarar as suas feridas. Trump parece incapaz dessa missão. Aguardemos pelo veredicto dos americanos numa eleição muito importante para os EUA e para o resto do mundo.