Opinião

De manta de retalhos ao caos… em 8 meses!

No passado dia 19 de junho, escrevi neste Jornal um artigo intitulado “Um Deputado amordaçado e sequestrado pela coligação!”. No referido artigo constava, entre outras coisas, que “O partido Chega, no início deste mês, tornou público que a atividade parlamentar do partido "fica coordenada inequivocamente por Carlos Furtado, líder do partido e da bancada parlamentar, o único deputado que está mandatado para representar o partido". Referindo o comunicado, em seguida, que "todos os atos parlamentares, sem exceção, onde também se incluem, propostas, declarações, intervenções, publicações e sentido de voto, ficam sujeitos à aprovação prévia pelo líder da bancada." Perante este cenário, escrevi na altura o seguinte: “Temos, portanto, em plena vigência na casa da Democracia, uma mistura entre mordaça e lápis azul! O Deputado José Pacheco está em silencio total. Por enquanto, senta-se atrás do Deputado Carlos Furtado. Ambos pertencem, formalmente, ao grupo parlamentar do Chega. Um grupo sui generis. Na verdade, materialmente, trata-se de uma representação parlamentar (1 único Deputado) … com dois votos. Esta situação, como todos sabem, é insustentável por muito mais tempo.” Não, não sou bruxo. Nem tenho qualquer bola de cristal. A situação era evidente. Limitei-me, por isso, a prever o óbvio. Menos de um mês depois, aí está a solução. Ou, pelo menos, uma tentativa de clarificação do caos que sempre orbitou em redor do partido Chega e, por arrasto, do imberbe XIII Governo dos Açores. Sim, mesmo que alguns tentem disfarçar este facto, é indesmentível que a sustentação política do atual Governo depende do apoio parlamentar do Chega. Do Chega, na versão grupo parlamentar (2 Deputados). Do Chega, na versão representação parlamentar (1 Deputado) acrescida do ex Deputado deste partido que foi já “cooptado” para a bancada original (PSD). Confuso? Sim, mas não só agora. Quem estendeu a mão ao Chega sabia ao que ia. Sabia que, rapidamente, estaria sujeito às birras e exigências do Sr. André Ventura. Bolieiro, empurrado pela ala radical do PSD, tal como Artur Lima e Paulo Estevão, movidos ambos pela ânsia de poder, fizeram de conta que o inevitável não aconteceria. Tal como o Senhor Representante da República que, instruído pelo Chefe de Estado, fechou os olhos e de sorriso escondido, numa declaração aos jornalistas, referiu à data “Tendo em conta que os deputados dos três partidos que integram a coligação e dos dois partidos que a apoiam (Chega e Iniciativa Liberal) ocupam 29 dos 57 lugares do parlamento açoriano, perfazendo assim maioria absoluta, decidi indigitar o dr. José Manuel Bolieiro como presidente do próximo Governo Regional.” Ora bem, e agora? 28 Deputados é a soma atual dos subscritores dos acordos que conduziram Bolieiro ao Palácio de Sant`Ana. Já falta 1 para a maioria absoluta! Será o Deputado Independente Carlos Furtado? O mesmo que que disse por estes dias, em sessão plenária, dirigindo-se a Bolieiro, o seguinte: “(…) em outubro passado, o Chega que negociou consigo o acordo de incidência parlamentar era um Chega moderado, sério, não populista…" O Sr. Presidente do Governo vai continuar a assobiar para o lado? Ou só falará depois de mais uma audiência com o imperador do Chega? E o Sr. Representante, vai manter por quanto tempo mais este silêncio ensurdecedor?