Opinião

Servir-se de Ponta Delgada

Pedro Nascimento Cabral (PNC) apresentou no passado dia 24, na bonita freguesia dos Mosteiros, em nome do PSD/Açores, a sua candidatura à Câmara Municipal de Ponta Delgada. O slogan, seguramente tratando-se de um lapso de escrita, é “Servir Ponta Delgada”. Vamos lá recuar um pouco e ver o errático percurso do ilustre candidato do PSD/A ao maior município dos Açores. Ora vejam lá:

I – Servir o PSD/Açores
Em 2018, PNC foi candidato à liderança do PSD/Açores. Apresentou-se como o candidato da rutura. O candidato não político. Segundo o próprio: “O primeiro candidato à liderança do PSD/A que vem da sociedade civil para o Partido”. Ora, como o futuro não se apaga, rapidamente surgiu na praça pública o seu longo percurso político-partidário: militante desde os tempos da JSD/A; membro de diversos órgãos do PSD e Presidente do Conselho de Jurisdição Regional. Reposta a verdade, lá surgiu o “espírito de missão e sentido de responsabilidade” inerente a qualquer militante e o “desejo de lutar por um futuro melhor para o PSD/A e para os Açores”. Em 2018 era, portanto, chegada a hora de “servir o PSD”.

II – Servir o Presidente
Um ano depois de derrotado nas urnas, de forma inequívoca, por Gaudêncio, PNC equacionou uma nova candidatura. Afinal de contas tinha sido a sua pressão mediática que tinha levado Gaudêncio a sucumbir politicamente à “operação nortada”. De forma sensata, sob pena de pesada derrota, decidiu aliar-se a Bolieiro. Passou a ser Vice-Presidente do partido e, posteriormente, seria o n.º 2 da lista de candidatos a deputados. Em 2019 era, portanto, a hora de “servir o Presidente”.
III – Servir o Parlamento
Goradas as movimentações para uma entrada no XIII Governo dos Açores, PNC foi eleito, no final de 2019, numa lista exclusivamente masculina no que respeita a vice-presidentes (paridade, igualdade… o que é isso?), líder parlamentar do PSD/A. A cada intervenção nessa qualidade, de braço dado com a arrogância, truculência e fel, vinha sempre os elogios a um “tempo novo”, ao “maior pluralismo” de sempre e à “inédita centralidade do parlamento”. Toda esta narrativa servia que nem uma luva para puxar pela importância de um cargo que havia sobrado, já que o Deputado Luís Garcia rapidamente se posicionou como candidato “natural” à presidência da Assembleia. Em 2019, depois do “servir o Presidente”, houve também lugar para o “servir o Parlamento”.

IV – Servir Ponta Delgada
Mais recentemente, após as recusas de Maria José Duarte, Fátima Rego, Elias Pereira, Jorge Macedo e mais alguns que não passaram de sondagens, PNC foi a primeira escolha para Ponta Delgada. Esta “azia” ficou bem patente no discurso de apresentação e, também, através de algumas notadas ausências. PNC, sem pestanejar, disse-nos que era preciso elevar o “município para novos patamares de desenvolvimento”; “melhorar a qualidade de vida dos cidadãos de Ponta Delgada” e que é preciso uma “verdadeira política de descentralização dos serviços que a Câmara Municipal presta”. 28 anos de poder desfeitos em poucos minutos! Feito o acerto de contas, tivemos depois direito a uma promessa… para Bolieiro cumprir: uma SCUT até aos Mosteiros! Servir Ponta Delgada? Brincalhão!!
A terminar, todos os diferentes “servires” de PNC têm um denominador comum. PNC sabe para onde quer ir. Nós também. E está, por isso, nas nossas mãos não deixar que se sirva de Ponta Delgada!