Não é já perplexo, sentimento que me dominava no arranque desta nova governação. Confesso-me agora de outro modo - incrédulo. Aterradoramente incrédulo. Perpetuam-se os discursos governativos obstinadamente focados em largar lume à anterior governação, apenas, e o mais possível. É este o caminho por onde somos levados de navegação à vista. Que o lume galgue o edificado nos últimos vinte quatro anos. Que se escancarem os palácios à nobreza regressada aos tronos. Que se tolerem, ainda que eventualmente pelos corredores apenas, os mais que convenientes dissidentes da esquerda, longe de confiáveis, porém incontornavelmente determinantes na conquista do crescimento das tropas. É jogar às pernas e não à bola. E é fazê-lo de tal maneira obstinada e confusa que ignoram o decisivo facto de até serem os portadores da mesma. É ter de estratégia o básico instinto de impedimento e destruição do jogo adversário, sem qualquer espécie de interesse por aquilo que, naturalmente, o possuidor da bola procura - o golo. É agora golo para este Governo de todos os Açorianos, sem qualquer espécie de pudor ou vergonha, demonstrar aberta e publicamente tratamento privilegiado de uns em detrimento de outros. É agora golo para este Governo de todos os Açorianos, desmultiplicar-se em visitas com futuros candidatos autárquicos, aqui e ali transportados sabe-se lá em que veículos. É agora golo para este Governo de todos os Açorianos, o travar-se de razões por toda e qualquer rede social da Internet, e nem sempre como básica e imediata resposta às mais variadas provocações, mas como se tal não bastasse, passando ao infame, vil e mais direto ataque. É agora golo para este Governo de todos os Açorianos, alimentar todas as pessoais promessas acumuladas de anos, amontoando todo o tipo de compadres e de comadres pelas mais diversas Secretarias Regionais e que, para tal, naturalmente, não serão bastantes os parcos lugares de topo de suas próprias hierarquias. É agora golo para este Governo de todos os Açorianos, a demagógica propaganda da baixa de impostos quando plenamente cientes de que os seus verdadeiros beneficiários são mesmo os mais ricos. É agora golo para este Governo de todos os Açorianos, a demagógica propaganda da transparência, acionando assim, como uma de suas primeiras medidas, o parar de prestar contas aos Açorianos através das regulares comunicações após reuniões do Conselho de Governo. É agora golo para este Governo de todos os Açorianos, a demagógica propaganda da humildade em casa própria, vaidade tal que se vai esquecendo de auscultar os mais variados parceiros sociais em momentos chave da política regional. É agora golo para este Governo de todos os Açorianos, nomear aceleradamente para os mais variados cargos públicos - alguns deles de recente transformação em nomeação política aquilo que antes era exclusivamente destinado a concurso público - e até depois, porque afinal de contas nem todos foram consultados, desnomear logo a seguir e ainda mais aceleradamente. É agora golo para este Governo de todos os Açorianos, falar em nome das mais diversas autónomas organizações públicas (administrações hospitalares ou outras) deixando então, por seu lado e amavelmente, que em seu nome haja quem apresente as suas próprias decisões e medidas. É agora golo para este Governo...
Uma nunca vista goleada do Governo dos Açores, verdade, e a todos os Açorianos, fantástico, goleada obstinada e exclusivamente focada em não cair de tão engalanado cavalo. Uma autogoleada e com nota artística, sublinharia de modo enfático um dos mais afamados técnicos do nosso mundo futebolístico.