E a propósito do Chega. Tenho um cão que me come as flores. É daqueles que têm umas perninhas muito pequenininhas e depois um corpo muito comprido. E come as flores. Acho que confunde as flores com os insetos, e depois de abocanhar as flores fica muito convencido de que apanhou uma borboleta. Da última vez que ele fez isso, eu gritei de impulso: CHEGA!!!... ... Parou com uma pata no ar. A olhar para mim. Olho torcido. (E atenção, atenção, que é preciso estar-se muito atento para se perceber que, parado, ficou com uma pata no ar, tal é mesmo o comprimento de todas elas).
Não é descabido, não senhor, a palavra gritadae a coincidência do nome com o jovem partido político português. Bem vistas as coisas, não me agrada absolutamente nada que,afinal,se confundam as flores do jardim com as borboletas.Nada.O agrado é nenhum.Mas o que ainda me acalenta é o facto de me manter convictode que a vasta maioria dos simpatizantes por este partido político estarão, também eles, convictos de que correm atrás de malditos insetos,porém abocanhando e destruindo é as flores do jardim(na expressão da metáfora). Ese assim for, feitas as contas, o seu lado positivo até nem édesfavorável. À medida que cada um dos ludibriados se vai apercebendo do que se trata, vai desertando. E nos Açores, tem conferido. Mas o bastão tem duas pontas, ou a moeda tem dois lados, se assim mais o preferirem: há uma clarividente consciência disso também por parte dos seus líderes e que, naturalmente, tudo já fazem para que o eleitorado abocanheas flores, ingenuamente.
A proclamada adequação do programa político do Chega não é mais, afinal, do que um aperfeiçoado camuflado sobre as mais profundas convicções políticas dos seus líderes, na tentativa populista de disfarçar princípios e ideias muito provavelmente bloqueadoras - se de todos à vista - da angariação de eleitores e de crescimento do partido, anzol bem disfarçado no seu renovado programa político. E o quanto importa não esquecer. Há o anzol, lá bem escondido, onde não dorme oanseio fundo do Chega em assassinar o estado social democrático, desde logo com a defesa do fim da escola pública, elevado ao máximo expoente no desejo da extinção do Ministério de Educação.Há o anzol, lá bem escondido, onde não dorme o anseio fundo do Chega em erradicar da Educação, o simples e fundamental conceito de inclusão.Há o anzol, lá bem escondido, onde não dorme o anseio fundo do Chega em reduzir o Serviço Nacional de Saúde com destaque no atendimento aos mais pobres. Há o anzol, lá bem escondido, onde não dorme o anseio fundo do Chega emerradicar para bem longe o atual e democrático código de trabalho,enfase dado a uma total (e sem regras) liberdade contratual.
Da defendida mera residualidade do estado social em dois mil e dezanove, eis-nos agora perante uma nova perspetiva da coisa -aspropagandeadas funções sociais do estado no que toca ao ensino, saúde e segurança social.Decorado com flores, o anzol. E que dizer dos cadastros étnico-raciais, das limitações à nacionalidade, das ocultadas referênciasà proibição da agenda LGBT no sistema de ensino, ou do fim imediato dos apoios do estado ao aborto ou à mudança de sexo?Que dizer dasquotas à imigração, da prisão perpétua, ou do conceito de "família natural"?...
Passemos palavra, companheiros, é preciso! CUIDADO ALI, HÁ ANZOL!!!!