Opinião

O regresso às aulas que se quer com (alguma) normalidade

Por esta semana, em ritmos diferentes, inicia-se o ano letivo. Desde março de 2020 que as escolas açorianas viveram situações difíceis e que em muito prejudicaram as aprendizagens e onde simultaneamente foi dado um enorme passo na transição digital.

Espera-se que perante um ano letivo com mais professores e menos alunos, com uma alta taxa de vacinação e com a redução do número médio de alunos por turma, tenhamos uma realidade diferente dos últimos meses

 

O maior desafio dos últimos anos

O início do plano de recuperação de aprendizagens, que ainda é desconhecida a sua articulação, em ambiente de pandemia da Covid-19, é o maior desafio da comunidade educativa nos últimos anos para mitigar as dificuldades dos alunos.

É certo que sobre cada escola está a responsabilidade de identificar e aplicar as necessárias e diferentes respostas perante cada situação, e que é forçosamente diferente de escola para escola, de turma para turma, de aluno para aluno. Porém, esta descentralização – que é bem-vinda – deverá ser monitorizada e avaliada. A descentralização não pode rimar com desresponsabilização do Governo.

Estamos preparados para conciliar a atividade normal com atividade extra, num mesmo tempo letivo?

As desigualdades entre alunos acentuaram-se e aqueles que têm a possibilidade de recorrer a explicações privadas superam as suas dificuldades. Os outros ficam reféns da sua condição que poderá ser castradora para os próximos passos, a não ser que a escola responda com eficiência.

 

Falta de professores

A falta de professores em determinadas áreas de ensino e geográficas não é de hoje.

A resposta para esta falta não se esgota na abertura de estágios pedagógicos, embora seja um paliativo útil, e muito menos se resolve com incentivos pontuais numa região dispersa territorialmente e com ambição de garantir a escolaridade obrigatória de Santa Maria ao Corvo.

A carreira docente necessita de ser reestruturada, sem preconceitos à partida, de quaisquer naturezas, nem presa a vínculos sindicais, mas com a visão de uma profissão que é essencial para o desenvolvimento de uma sociedade progressista.

Pedem-se políticas de fundo para não comprometer a essência da Educação, desde logo que tornem a carreira docente mais atrativa, nomeadamente ao nível financeiramente e uma maior exigência para se aceder à profissão – maior credibilidade.

 

A externalidade negativa da expansão digital

A falta de profissionais na área de informática é grave quer no ensino e em toda a administração pública. A imagem é simples: perante a necessidade de técnicos na área, com ordenados no privado aliciantes, quem quererá ser equiparado com o vencimento de técnico superior ou de professor?

Esta é uma das externalidades negativas da expansão do digital. Sem professores formados na área como iremos formar alunos para aquela que é uma necessidade já do presente? E como teremos uma sociedade a responder num ecossistema digital? E como seremos produtores digitais em vez de consumidores digitais, algo que contribuiu para o desequilíbrio da nossa balança comercial?

É fácil e cómodo adquirir soluções tecnológicas nas plataformas internacionais, mas com um sistema educativo de qualidade e com carreiras atrativas na área informática estas plataformas também poderão ter o código postal de uma das ruas açorianas.