Opinião

Os números, as surpresas e as lições

Os números são conhecidos. O PS venceu nove câmaras, o PSD/Coligação triunfou em oito autarquias, uma autarquia ganha pelo CDS-PP e uma pelo grupo de independentes na Calheta. Quem ganhou? O partido que tem o maior número de autarquias, o PS? Ou o partido/ coligação que arrecada o 2o lugar, PSD/Coligação tendo aumentado o número de votantes? Todos perderam algo. No cenário global, aqueles que ganharam perderam autarquias e os que perderam ganharam terreno autárquico.

Os ciclos políticos estão a mudar. São mais curtos. A garantia dos 3 mandatos pelo mesmo candidato já não é certa.

Veja-se os casos de Lisboa, Funchal, São Roque do Pico e da Horta. Face ao pico de votantes atingido pelo PS, seria expectável a sua redução. Este cenário aconteceu com o PSD após os números totalitários antes de 1997. Porém, face às características progressistas e humanistas do PS seria esperada a manutenção ou a perda mínima do número de votantes. Não foi conseguido.

A maior surpresa regional

A mudança de poder no Faial foi a maior surpresa para os socialistas e para a coligação de direita.

 A maior lição da falha de caciquismo

O Corvo foi a maior lição aos Açorianos da não cedência ao caciquismo do PPM, por Paulo Estevão.

A perda da oportunidade

A candidatura do PS a Ponta Delgada falhou a eleição, num momento único de mudança de protagonista por parte do PSD – era a oportunidade! -, por não ter sido capaz de identificar os sinais de transformação em Ponta Delgada e por conseguinte não teve a capacidade de reproduzir na sua candidatura, com arrojo, determinação e coração, o que os cidadãos esperavam de um grande partido que é o PS. Dito de outra forma, uma candidatura que refletisse as alterações sociais, económicas e ambientais no mosaico rural e urbano.

O Lápis azul das estruturas partidárias

A derrota do PS na Praia da Vitória era evitável. Berto Messias protagonizou uma excelente campanha. É um “touro político”. Foi penalizado pelo cenário que o conduziu à candidatura e pela fragmentação dos votos socialistas. A derrota na Praia da Vitória era evitável. Bastava para tal que se ouvisse quem liderou a autarquia, Tibério Dinis, em vez da imposição por parte daqueles que perderam a capacidade de ouvir e sentir o povo.

A derrota do PSD na Vila do Porto era expectável, desde logo por mérito de Bárbara Chaves. Mário Reis, em Santa Maria, protagonizou a escolha por quem não conhece o território Mariense - impôs-se ao povo um candidato.

Mais mulheres presidentes de câmara.

São quatro as mulheres eleitas nas autarquias dos Açores. Desde logo fica a evidência que quando é proporcionada a igualdade de oportunidades, estas arregaçam mangas e, “pasme-se”, até ganham eleições.

O desafio para a coligação governamental

Fazer o que prometeu. Tratar os cidadãos, independentemente do partido, de igual forma. Sem perseguições que tanto foram tema neste período eleitoral.

O desafio para o PS

Reconhecer que o caminho que estamos a seguir não pode continuar é a primeira conclusão face aos resultados de domingo. Repensar o PS nos Açores, face às realidades políticas diferentes, e refrescar protagonistas – ideia que repito há algum tempo aqui e noutros fóruns. Embelezar os cenários não resolve. Enfrentar os cenários cria caminhos alternativos.

Estes caminhos devem ser trabalhados, debatidos e decididos dentro do PS, mas não fechado em grupos que nos conduziram aos últimos resultados eleitorais. Porque? porque os Açorianos precisam de uma oposição forte, fiscalizadora, mas proponente, para que esta se torne uma alternativa forte que conduzirá a um governo forte em 2024.