Opinião

Quê?!

Bom, eu agora estou certo. Convicto. O debate da presente semana na reunião plenária do Parlamento Açoriano sobre o Programa Operacional 2030 foi, quanto a mim, clarificador. Muito. A prova dos nove, em abono da verdade. Clarificador. Mesmo. Estou a sério. Só lamento é que não tenha trazido a clarificação do que era suposto, do que era desejado, pensando eu de que...! - as opções governamentais sobre o próprio PO 2030. A certeza com que fiquei, apesar de há muito andar disso seguro, foi de que o nosso Governo Regional, bem como os partidos que o suportam, padecem de um problema comum, de um máximo denominador comum, chamemos-lhe assim, o instrumento primordial que os auxilia a manter-se colados ao seu superior objetivo, também ele comum, de governar - a Mitomania. Há uma compulsão, aparentemente já descontrolada, em viver uma realidade que apenas existe em suas próprias cabeças ou, dizendo de outro modo, ilusória, inexistente, no fundo, irreal. Como é possível que o Sr. Secretário das Finanças, Planeamento e Administração Pública seja capaz de solicitar, formalmente, a palavra, para dizer aos açorianos que este governo, num comparativo ao PO 2020 - este último da responsabilidade do anterior governo - prepara-se para investir fortemente em áreas como a da Ciência, Desenvolvimento e Inovação ou até a da Educação e Aprendizagem ao Longo da Vida? Como?! Não terei percebido!... A primeira sofre uma quebra objetivada em números (evidente e inegável, portanto) de 40 em 49milhões de euros (uns trocos, dirão, talvez) e a segunda uma vertiginosazinha queda (miudezas) de um valor superior a 22 milhões de euros, efetivamente caindo dos 228 milhões de euros para 206 milhões de euros. Mais: de que serve colocar um determinado documento a consulta pública, para posteriormente se ignorar tudo aquilo que os mais diversos pareceres vão dizendo, visões muito coincidentes com tudo aquilo que o PS tem também tentado fazer ver? Se não é isto governar numa bolha, dizendo-o assim, então o que é? Eis que a encruzilhada da coligação nos apresenta uma interessante espécie Neo-Surrealismo in autêntico Atlântico Norte. Não sendo isto o bastante, imagine-se, apesar da argumentação convicta deste mundo exclusivamente seu, junta-se aquela outra também já habitual e, a meu ver, não menos patológica - a culpa é toda do PS! Foi o PS o culpado e, neste caso, porque foi o seu governo que negociou tais fundos europeus! Quê?! Mas isto o que é? Conversamos o quê? Senhores, não é o volume de verbas que está em causa. Nem tão pouco quantas serão as que chegam por intermédio do FEDER ou quantas serão por intermédio do FSE+. A questão em debate é sobre aquilo que o Governo Regional tem, em si, como poder decisório estratégico, e não isso! O debate centra-se nas opções de investimento dessas verbas, Sr. Presidente!... Mas ainda assim, atenção: aquilo que eu aqui pretendo destacar nem é isso, tão pouco, mas sim a total disfuncionalidade entre o propagandeado - o discurso do certo - e a, por demais, evidente prática de precisamente o contrário. Aquilo que eu aqui mais quero realçar é mesmo, e afinal de contas, a surrealidade de um governo em funções verdadeiramente disfuncional.