As "fake news", as meias-verdades e a permanente tortura aos números, são recursos usados e abusados para manipular a opinião pública.
Nos dias mais recentes ouvimos e lemos sobre a saúde na Terceira coisas como: "praticamente 90% de Cobertura de médicos de famílias"; "Consultas abertas criadas"; "Núcleos de freguesia a trabalhar bem", os "Governo do PS deixaram a saúde na Terceira ao abandono".
Então vamos por partes:
1. "Praticamente 90% de cobertura de médicos de famílias na ilha Terceira"
Devemos, portanto, concluir que por um passo de magia ou alguma habilidade especial tenha sido possível esta taxa de cobertura? Não! É possível, tão simplesmente, porque, conforme resposta a requerimento aos deputados dos PS, os médicos que se encontravam em fase final de formação na USIT, na sua maioria, foram admitidos para o quadro daquele serviço, podendo a partir desse momento ter lista de doentes atribuída. Foi também possível por todo o investimento feito na formação e contratação de pessoal médico ao longo de décadas. Isso é notório pela evolução da cobertura de médicos de família na Terceira (em 2018, 68,5% e em 2019, 80,5%); e pelo número de pessoal médico ao serviço (34 em 2018; 38 em 2019), mas não basta.
Importa olhar em frente, perceber o que nos espera nos próximos anos. Atender não só às entradas de pessoal, mas também às saídas. Parece-me que era útil ser verdadeiro e realista e dizer que, do balanço espectável de entradas e saídas, muito brevemente 4.000 utentes na Terceira vão ficar sem médico de família. Isso é motivo de satisfação? Ou de apreensão?
2. "Consultas abertas criadas"
As consultas abertas existem há muitos anos na USIT. São uma boa medida, não foram criadas agora. São fundamentais para permitir a quem não tem médico de família aceder a uma consulta médica no seu Centro de Saúde.
Quantos como eu já beneficiaram desse tipo de consulta do Centro de Saúde de Angra? Quem pretendem iludir?25.945 consultas complementares, em 2018; 31.356, em 2019.
3. "Núcleos de Saúde Familiar a trabalhar bem"
Os núcleos de saúde familiar estão a trabalhar bem, só agora? Não estavam antes? Claro que estavam. Foram sendo criados em várias freguesias; basta olhar para São Bartolomeu, Santa Bárbara e São Mateus onde foram melhoradas as condições físicas e foram constituídas equipas de profissionais médicos, de enfermagem e administrativos, dando uma resposta de proximidade importantíssima à nossa população.
A pergunta que nós gostaríamos de ver respondida é porque é que estando pronto para abrir o Núcleo da Terra-Chã, desde finais 2020, ainda nunca abriu? Ou, o que obsta à reativação dos núcleos do Posto Santo e Porto Judeu?
Não é aceitável que se afirme que se desinvestiu na saúde na Terceira. Temos melhores serviços, porque temos mais e melhores profissionais, porque aproximámos os serviços da população, porque garantimos serviços cada vez mais diferenciados.
Há margem para melhorar? Com certeza que sim, mas não será certamente reduzindo o financiamento da USIT em mais de 2 milhões de euros!
(*) Os dados estatísticos referidos neste artigo constam do Relatório de Gestão referente ao ano de 2019 e do Plano de Atividades relativo ao ano de 2020.