Opinião

Requerer sem dó

 

 

Era abril e corriam, com a costumeira agitação mediática, as primeiras semanas da legislatura e no espaço público regional surgiam já várias manifestações de indignação com o número de requerimentos apresentados pelos deputados da oposição que eram necessariamente acompanhadas da demonstração de um profundo desprezo por aquele instrumento de fiscalização parlamentar.
Passados os meses, a agitação e a indignação, mas mantendo-se o mesmo ritmo de entrada de requerimentos, uma vez que estes sempre foram, são e serão um importante mecanismo de controlo, por parte da Assembleia Legislativa Regional, da atividade (pouca) e da inatividade (muita) do Governo Regional, no mesmíssimo espaço público regional, designadamente, no editorial deste jornal do passado sábado, ouvem-se já vozes conhecidas, mas anonimizadas, valorar o trabalho parlamentar desenvolvido através de requerimentos, em especifico, dois requerimentos apresentados pelo PS e pela IL, relativos ao aluguer de aviões e tripulações pela SATA e ao estaleiro naval da Praia da Vitória, que foram qualificados como na mouche.
É evidente que entre abril e julho nada mudou, o que acontece é que à imagem dos pimentos padrón em que unos pican, y otros non, também nos requerimentos uns são mais relevantes e outros não, aliás a variabilidade das coisas é um aspeto comum a pimentos, requerimentos e à vida e seus lamentos.
Daí que, por vezes, as indignações bíliscosas com um alegado parlamento de requerimentos, são manifestamente precipitadas, porque, de quando em vez, lá surge um requerimento que se tem de considerar na mouche, sendo certo que todos os requerimentos ambicionam a ser na mouche, mesmo aqueles que a opinião considera que nem o alvo acertam, por este motivo, é função da oposição continuar a requerer sem dó nem piedade, até porque há várias mouches para se ir acertando.